sábado, março 12, 2005

Lamy ré dó

"Tenho cara de miúdo mas de carros percebo eu". Com aquele ar de "queijinho-fresco", menino de coro atinado e acólito de missa vespertina, quase me fez acreditar que um dia teríamos um campeão nacional de grand prix. Nunca ganhou nada, essa é a verdade, mas manteve sempre aquele ar de "homenzinho", esforçado, coerente, de profissional dedicado. Lembrem-se da preparatória. Independentemente da escola onde andássemos, havia sempre o "gordo", o "caixa de óculos", o "canina", o "fuas" e o "atinadinho". Se tivesse de encaixar o Lamy num destes perfis, não hesitaria. Seria no último.

Depois de ter andado algum tempo arredado do mediatismo nacional, foi com grande regozijo que descobri no centerfold da revista do EXPRESSO uma reportagem sobre esse "grande" menino. Entre uma breve introdução à sua carreira e uma carrada de fotos - o "Pedrinho" no kart, o "Pedrinho" no F1, o "Pedrinho" em Vilamoura, o "Pedrinho" com o mano, o "Pedrinho" a dar banho ao sobrinho, o "Pedrinho" com a bandeira das quinas sobre os ombros - lia-se o "Pedrinho" a falar da família: "Só tenho olhos para a minha mulher. Amo-a e aos meus filhos mais que tudo neste mundo. Por eles daria a minha vida". Quase chorei, com tanta ternura, porque já não são assim muitos os gringos que nos dias que correm falam nestes termos. Ver isto numa "Caras" ou numa "VIP" ainda é naquela, porque a verdade pode parecer sacrilégio. Mas no EXPRESSO, tem de ser para acreditar...

Bem, lá continuei a leitura e foi de facto bom saber que os anos passam pelo "Pedrinho" e que ele continua aquele tipo certinho.

Continuando a estória: dois ou três dias depois fui levado a um desses bares "alternativos", onde por 15€ bebemos um Ballantine's 21 anos envelhecido em cascalho e vemos de tudo, do bom ao mau, da portuguesa que sonhava um dia ser Miss "Praia da Rocha" à lituana que ficou com o mestrado de "matemáticas aplicadas" a meio. Aqui vemos mesmo de tudo! Eram 2h da manhã e vejo um "caga tacos" a entrar neste belo anfiteatro, com dois empresários-capanga que quase em desespero coçavam o tomatal "enchatecido". Eu não podia acreditar: era o "Pedrinho"! Por momentos pensei: "bem, ele é um gajo certinho, está contra esta coisa da economia paralela e da exploração "animal" que é o trabalho precário e puxou dos galões, chamou as autoridades e veio fechar esta espelunca!" Mas não...dois minutos depois já estava "agrafado" a duas brasileiras, mão na bunda e "vamos embora, que lá vem alho"!

O último sítio onde poderia alguma vez imaginar encontrar o "Pedrinho" seria num bas-fond de gosto duvidoso, com garrafa da casa e free-pass para os camarins. "Só tenho olhos para a minha mulher. Amo-a e aos meus filhos mais que tudo neste mundo. Por eles daria a minha vida". Esta frase ia tilintando na minha cabeça, enquanto via o "Pedrinho" em mais uma acrobacia, entre a chicane de uma table dance e a pit stop de duas nordestinas...

Entre aquele pitéu viciado do fumo de charuto e do Bulgari que empestava as bailarinas, meus amigos, cheira a podre...