segunda-feira, setembro 25, 2006

O seu a seu dono

Porra, logo em cima da merda do retalho que o Rui me ofereceu!, trauteaste tu ao reparar que a bohemia tinha caido em cima do (ora bem...) primeiro...segundo...terceiro...quadrado a contar do lado da casa de banho, daquele entralaçado chinês. Por mais que o pisem, que o aspirem, que os gatos nele rebolem, que a criança lá salive e que o ar que, quando estendido na varanda, faça desaparecer os restos das memórias que sobre ele pairam, este tapete tem uma estória especial: foi comprado em retalhos. Imaginem um retalho dum tapete, talvez uns 30 por 30 centímetros. Agora imaginem 113 retalhos todos juntos, em que cada um deles tem 6 retalhos adjacentes, tecidos com a mesma cor, motivo único, numa matriz constante de fios regrados...
...tento distinguir o meu, porque quero que saibas que aquele quadrado, igual ao que te foi dado pela namorada do teu primo, que conheceste num café em Almada em Abril, é só aparentemente igual ao meu. Uma diferença te exijo: que o terceiro quadrado "a contar do lado da casa de banho" seja o mais conspurcado, com mais pêlo de gato, mais salivado e com mais cheiro a cerveja. E que seja também esse o quadrado que quando pendurado no mármore da janela, fique do lado de dentro, para que o vento que sopra desde o cruzamento da Calçada do Tojal com a Ortigão Ramos não apague as estórias de quase 20 anos que quilómetros de fio chegam apenas para enunciar.

De pé, contra as listas de casamento, um abraço solene do padrinho

rpb

quarta-feira, janeiro 25, 2006

www.merdice.pt/bora_antesquefiqueatolado

Tanta gente que passava de um lado para o outro em hora de ponta e fui logo esbarrar na estatística! 20% dos jovens licenciados já saíram de Portugal. O número diz tudo e não diz nada, mas não me admira. 20% rapidamente passarão a 30%, 40%, parecendo os coitadinhos que fugiam nos 1900 ao regime. Fugiam por medo. Hoje fugimos por inteligência. Vivemos em tamanha merdice que chegámos ao cúmulo de a justificarmos e desculparmos, brincando aos criativos e "voilá", como vi ontem num centro de saúde, desenharmos um brilhante poster a dizer: "Não se irrite. Conserve a sua saúde".

Procurei definir o que é ser português e não sei. Porque no final de contas, apesar de haver portugueses de excepção e portugueses de trampa, o que conta é a média. E a média é assustadoramente ridícula. Salve-nos o sol, a praia, o cheiro a bikini e a maresia, o Euro2004, a selecção, o Eusébio, o Mourinho, a bifana e o derby, a Catarina Furtado e a Miss Playoby TV, a SIC Notícias e o Domingo Desportivo. Salve-nos o cozido - sim mãe quero mais! - o galo de barcelos, o Egas Moniz e o Zé Saramago, a Ribeira e o Pritzker do Siza Vieira...


A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.

O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país. Porque pertenço a um país onde a "esperteza" é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E se tira um só jornal, deixando-se os demais onde estão.

Pertenço ao país onde as empresas privadas são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos. e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.

Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.

Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.

Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.

Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria-prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa.

Esses defeitos, essa "chico-espertice portuguesa" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, eleitos por nós. Nascidos aqui, não em outra parte...

Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.

E não poderá fazer nada...

in Publico

terça-feira, janeiro 03, 2006

Tributo sem hora marcada

Este "post" é um tributo a todos os meus amigos. Acima de tudo, uma forma de deixar para sempre registado algo que só por vezes lhes digo: "que somos inseparáveis". Aos que já hoje tenho e a todos aqueles que ainda hei-de ganhar, "aquele abraço". E que a nossa amizade se renove sempre sem tempo e sem espaço marcado, acompanhada de bom humor...

[a amizade nas mulheres]

Duas mulheres encontram-se na rua:
Mulher 1: Olá, querida!!! Então cortaste o cabelo?
Mulher 2: Cortei amor! E tu nem imaginas com quem... o Antoine, aquele mago da tesoura.
M1: Maaaraaaviiilhooosooo. Ficaste 10 anos mais jovem. Essas madeixas, que giras! Vou mandar fazer igualzinho.
M2: É uma técnica nova de clareamento que ele trouxe de Itália. Imagina que...bla, bla,... (Meia hora depois...)
M1: Então 'tá bom querida. Corre para casa que o teu namorado vai morrer de orgulho da mulher que tem.
M2: Ai amiga, ado-ro-te! Beijinhos!

A Mulher 1 sai a pensar: «Como esta vaca ficou ridícula! Será que ela não tem espelhos em casa? Não sei como aquele pão do namorado continua com ela. Se houver uma oportunidade... dou-lhe em cima.
Mulher 2 sai a pensar: «Esta gaja deve estar a morrer de inveja do meu visual. Ainda quer fazer igual, é preciso ter lata! Com aquele cabelo que parece arame farpado... Nem com implantes!»

[a verdadeira amizade masculina]

Dois homens encontram-se na rua, um deles saindo do barbeiro:
Homem 1: Eh pá! Como é que é? Tudo bem chulo do "car*@?&"?! Foste à tosquia?
Homem 2: Não "cabr?§"... fui só cortar as patilhas!
H1: Que merda de corte, hein? Pareces um paneleiro. Deves pegar de marcha atrás!
H2: É... mas a tua irmã gosta.
H1: Vá lá! ...ah, e manda um beijo 'pra boazona da tua prima, ok?
H2: Vai-te "fod#€", corno de merda! Não tens "pic£#" para ela!
H1: Bem tchau ganda boi.

Homem 1 sai a pensar: «Este gajo...Tipo porreiro!»
Homem 2 sai a pensar: «Adoro este gajo... É mesmo fixe...»

domingo, maio 15, 2005

nunca mais é sábado...

Hoje é sábado. Sábado à tarde. Cheira-me a farturas, bifanas e corato. Estou de poucas palavras. Desço a Av. Lusíada em excesso de velocidade, em perseguição do legislador. Carros estacionados em plena via, segundas filas que entretanto passarão a três ou quatro, arrumadores que cumprem hoje os objectivos do mês e um batalhão de polícias que descaradamente procuram a infracção que não querem ver. Falta meia hora, porque hoje é dia de jogo grande. Meia hora que me resta para encontrar o legislador e acertar contas. Atarantado olho para as dezenas de viaturas desordenadas: Mercedes, uns tantos BMW, Jaguares, até um "Cavallino Rosso"... ele anda por aí.

Hoje é sábado. Sábado bem cedo. Cheira a Lisboa. Estou de poucas palavras. Desço a Av.Lusíada em velocidade controlada, a pastelar, porque no escritório há muito trabalho à espera. Não está fácil para encontrar lugar. Muitos carros estacionados na via, como é costume. Falta meia hora para o meio dia e lá encontro um espacinho para "parquear a viatura". Vai ter de ser ligeiramente em cima da passadeira, mas hoje é sábado e não deve haver problema. O dia que me espera não me dá sequer tempo para tentar encontrar um lugar melhor. Depois disso, são 5 horas que custam a passar, mas não há carreira sem sacrifício. A melhor parte do dia está para chegar, com o encontro em casa de amigos, desses que têm a habilidade de fazer com que este dia ainda venha a parecer fim-de-semana... cadê o carro, interrogo-me? Onde de manhã deixei o meu, jaz agora outro, a apanhar o sol de final de tarde, na mais perfeita acalmia...

Hoje é sábado. Sábado de merda. Cheira a injustiça. Estou de poucas palavras. Desço até ao Restelo para ir buscar o carro que afinal foi rebocado. O artigo 49º, nº1 d), insistentemente pronunciado pelo agente Mota, não dá azo a discussão. Paga e cala, diria ele se tivesse mais confiança. 90€ e inibição do direito a conduzir durante um mês, diz o Sr. Agente naquele vernáculo que nem ele próprio entende, enquanto vai redigindo a notificação. Depois de "levado ao altar" regresso ao carro, em direcção à Av. Lusíada, como de costume. Desço-a em excesso de velocidade, em perseguição do legislador. Carros estacionados em plena via, segundas filas que entretanto passarão a três ou quatro, arrumadores que cumprem hoje os objectivos do mês e um batalhão de polícias que descaradamente procuram a infracção que não querem ver. Falta meia hora, porque hoje é dia de jogo grande. Olho, vejo, procuro, observo... mas não encontro...

Hoje é sábado. Amanhã é outro dia. Estou sem palavras. Neste paraíso de viaturas mal estacionadas, sem uma multa sequer, e de polícias fardados a rigor, está por certo o V6 do legislador. A última passadeira a descoberto é agora tapada por mais um automóvel que já chega tarde. O último polícia à vista vai fugindo para o pé da roulotte mais próxima, de onde ecoa o relato. Não cheira a podre, porque cheira a festa, farturas, bifanas e corato...

sábado, março 12, 2005

Lamy ré dó

"Tenho cara de miúdo mas de carros percebo eu". Com aquele ar de "queijinho-fresco", menino de coro atinado e acólito de missa vespertina, quase me fez acreditar que um dia teríamos um campeão nacional de grand prix. Nunca ganhou nada, essa é a verdade, mas manteve sempre aquele ar de "homenzinho", esforçado, coerente, de profissional dedicado. Lembrem-se da preparatória. Independentemente da escola onde andássemos, havia sempre o "gordo", o "caixa de óculos", o "canina", o "fuas" e o "atinadinho". Se tivesse de encaixar o Lamy num destes perfis, não hesitaria. Seria no último.

Depois de ter andado algum tempo arredado do mediatismo nacional, foi com grande regozijo que descobri no centerfold da revista do EXPRESSO uma reportagem sobre esse "grande" menino. Entre uma breve introdução à sua carreira e uma carrada de fotos - o "Pedrinho" no kart, o "Pedrinho" no F1, o "Pedrinho" em Vilamoura, o "Pedrinho" com o mano, o "Pedrinho" a dar banho ao sobrinho, o "Pedrinho" com a bandeira das quinas sobre os ombros - lia-se o "Pedrinho" a falar da família: "Só tenho olhos para a minha mulher. Amo-a e aos meus filhos mais que tudo neste mundo. Por eles daria a minha vida". Quase chorei, com tanta ternura, porque já não são assim muitos os gringos que nos dias que correm falam nestes termos. Ver isto numa "Caras" ou numa "VIP" ainda é naquela, porque a verdade pode parecer sacrilégio. Mas no EXPRESSO, tem de ser para acreditar...

Bem, lá continuei a leitura e foi de facto bom saber que os anos passam pelo "Pedrinho" e que ele continua aquele tipo certinho.

Continuando a estória: dois ou três dias depois fui levado a um desses bares "alternativos", onde por 15€ bebemos um Ballantine's 21 anos envelhecido em cascalho e vemos de tudo, do bom ao mau, da portuguesa que sonhava um dia ser Miss "Praia da Rocha" à lituana que ficou com o mestrado de "matemáticas aplicadas" a meio. Aqui vemos mesmo de tudo! Eram 2h da manhã e vejo um "caga tacos" a entrar neste belo anfiteatro, com dois empresários-capanga que quase em desespero coçavam o tomatal "enchatecido". Eu não podia acreditar: era o "Pedrinho"! Por momentos pensei: "bem, ele é um gajo certinho, está contra esta coisa da economia paralela e da exploração "animal" que é o trabalho precário e puxou dos galões, chamou as autoridades e veio fechar esta espelunca!" Mas não...dois minutos depois já estava "agrafado" a duas brasileiras, mão na bunda e "vamos embora, que lá vem alho"!

O último sítio onde poderia alguma vez imaginar encontrar o "Pedrinho" seria num bas-fond de gosto duvidoso, com garrafa da casa e free-pass para os camarins. "Só tenho olhos para a minha mulher. Amo-a e aos meus filhos mais que tudo neste mundo. Por eles daria a minha vida". Esta frase ia tilintando na minha cabeça, enquanto via o "Pedrinho" em mais uma acrobacia, entre a chicane de uma table dance e a pit stop de duas nordestinas...

Entre aquele pitéu viciado do fumo de charuto e do Bulgari que empestava as bailarinas, meus amigos, cheira a podre...